sexta-feira, março 16, 2007

Me diz então quando você vai ter... saudades de você!!!

determinadas coisas, como a tua presença, são tão sutis que nem se notam.
quem me vê assim tão só, a contemplar palavras, a catar no caminho os restos de mim, haja vista ser essa a função andarilho, catar cacos de si;
quem me vê assim mal sabe da minha pálida figura, a andar pela rua como quem se perdeu,
um bêbado, um cego aos desígnios de Deus, (se é que os há),
um errante que tropeça nas árvores e tira delas satisfações vegetais,
quem me vê assim mal sabe da minha ausência cheia da tua presença.
cada passo meu deriva do passo teu,
assim vejo a minha vida, entrelaçada com a tua
e te busco nos espaços incongruentes da rua.
justo eu, o louco que se anuncia aos gritos, quase poeta de absurdo e som,
menestral do carnaval vazio, estandarte de mim mesmo,
figura espaçosa, aquém da própria medida,
justo eu,
tenho em mim, cá dentro, uma direção correta, um norte a seguir em seu nome,
uma meta: tornar-me melhor do que sou agora.
e quando penso em parar, coisa que sempre acontece,
tua voz aponta o caminho,
a tua voz é ninho, caixa de guardar carinho, caleidoscópio de palavras e medidas.
bem verdade, costumo negar e distorcer,
mas mesmo assim, tenho em você as três certezas fundamentais:
1. a palavra existe para ser dita.
2. a vida existe para ser sentida.
3. sem você 1 e 2 não valem nada.

Acho que estou gostando de alguém...

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei e a temática (da dicotomia entre o que se é por dentro e o que os outros vêem) lembrou-me o seguinte poema de Camões:

Julga-me a gente toda por perdido


Julga-me a gente toda por perdido
vendo-me, tão entregue a meu cuidado.
andar sempre dos homens apartado
e dos tratos humanos esquecido.

Mas eu, que tenho o mundo conhecido
e quase que sobre ele ando dobrado,
tenho por baixo, rústico, enganado,
quem não é com meu mal engrandecido.

Vão revolvendo a terra, o mar e o vento,
busque riquezas, honras a outra gente,
vencendo ferro, fogo, frio e calma;

que eu só, em humilde estado, me contento
de trazer esculpido eternamente
vosso fermoso gesto dentro n'alma.