quinta-feira, agosto 31, 2006

Salmo da sociedade cristã de hoje em dia...

O consumismo é meu pastor, nada me faltará; ele me faz descansar no meu apartamento redecorado, e me leva canais tranquilizantes pelo cabo. O governo me dá taxas e me guia no (único) caminho certo, como ele mesmo anunciou. Ainda que eu caminhe por um vale revelador como a própria verdade, nada verei. Pois tu, o Dinheiro, estás comigo. Tu me engordas e me digeres. Preparas um banquete pra mim onde meus inimigos me possam comer. Sou teu convidado de honra e enches meu corpo (de coca-cola) até a borda. Sei que tua produção e teu mercado ficarão comigo enquanto eu viver. E todos os dias de minha vida, irei ao shopping. Amém.
Minha alma é um deserto.
Não há vento nem areia.
Não há espaço nem tempo.
Não há sentimento ou lembrança.
Minha alma é um deserto sozinho.
Faltaram chuvas de lágrimas sinceras.
Faltaram rios de memórias correndo para o oceano do inconsciente.
Minha alma está seca.
Os medos riem de mim.
A paranóia duvida de sua própria existência.
O arrependimento tem orgulho de si mesmo.
As facas brotam do chão como grama.
O ar está repleto de fonemas mortos.
A poeira insuportável é composta de simbolismos.
Os totens estão em chamas.
Minha alma é lama.
Desintegra-se.
Agora sim eu posso dizer:
Alma?
Isso não existe.

terça-feira, agosto 29, 2006

Que merda

Além de ter que pagar cadeiras nesta porra que não me servem p´ra porra nenhuma eu ainda tenho que fazer malditos trabalhos inúteis sobre essas porcarias... por que a orientadora não me dá uma nota por um poema sobre o assunto?

A UMA MÃE QUE JÁ PARTIU...

Mãe! Os poetas já tanta coisa escreveram
sobre mães, que eu fico embaraçado sem saber,
neste dia, o que terei pra te dizer...
porque será uma réplica do que outros já disseram...

Mas, mãe querida! Tenho que dizer-te com ternura,
que mesmo através duma névoa escura que limita,
este mundo reduzido em que a gente gravita...
eu te vejo olhar-me com doçura.

A todo o momento sinto a tua presença!
... Sofro na saudade que tenho em meu peito adentro,
uma intensa mágoa de um sofrer duro e pungente.

Não me importa que outros poetas já o tivessem dito,
porque mais uma vez, vou repetir neste momento:
-- Por ti Mãe!... Eu sofrerei eternamente!

...
merda merda merda!!!

domingo, agosto 27, 2006

I.E.P.M.

Existencialismo
Desta maneira, a expansão dos mercados mundiais acarreta um processo de reformulação e modernização do orçamento setorial. Caros amigos, o entendimento das metas propostas nos obriga à análise das condições inegavelmente apropriadas. O que temos que ter sempre em mente é que o desenvolvimento contínuo de distintas formas de atuação causa impacto indireto na reavaliação dos procedimentos normalmente adotados. O incentivo ao avanço tecnológico, assim como a hegemonia do ambiente político prepara-nos para enfrentar situações atípicas decorrentes do sistema de formação de quadros que corresponde às necessidades. A nível organizacional, a execução dos pontos do programa desafia a capacidade de equalização das diversas correntes de pensamento. O empenho em analisar o surgimento do comércio virtual obstaculiza a apreciação da importância das novas proposições. A certificação de metodologias que nos auxiliam a lidar com o desafiador cenário globalizado auxilia a preparação e a composição dos índices pretendidos. O cuidado em identificar pontos críticos na consolidação das estruturas exige a precisão e a definição da gestão inovadora da qual fazemos parte. Podemos já vislumbrar o modo pelo qual o julgamento imparcial das eventualidades pode nos levar a considerar a reestruturação do investimento em reciclagem técnica. Todavia, o aumento do diálogo entre os diferentes setores produtivos garante a contribuição de um grupo importante na determinação das diretrizes de desenvolvimento para o futuro. Do mesmo modo, a percepção das dificuldades aponta para a melhoria dos conhecimentos estratégicos para atingir a excelência. Por outro lado, a mobilidade dos capitais internacionais promove a alavancagem das direções preferenciais no sentido do progresso. É importante questionar o quanto a necessidade de renovação processual estende o alcance e a importância do processo de comunicação como um todo. Por conseguinte, o início da atividade geral de formação de atitudes faz parte de um processo de gerenciamento dos paradigmas corporativos. Gostaria de enfatizar que a valorização de fatores subjetivos assume importantes posições no estabelecimento dos relacionamentos verticais entre as hierarquias. Todas estas questões, devidamente ponderadas, levantam dúvidas sobre se a crescente influência da mídia é uma das consequências dos modos de operação convencionais. Assim mesmo, o acompanhamento das preferências de consumo talvez venha a ressaltar a relatividade do levantamento das variáveis envolvidas. A prática cotidiana prova que a estrutura atual da organização apresenta tendências no sentido de aprovar a manutenção das condições financeiras e administrativas exigidas. No entanto, não podemos esquecer que o novo modelo estrutural aqui preconizado facilita a criação do impacto na agilidade decisória. Ainda assim, existem dúvidas a respeito de como a revolução dos costumes oferece uma interessante oportunidade para verificação das formas de ação. No mundo atual, a consulta aos diversos militantes agrega valor ao estabelecimento das posturas dos órgãos dirigentes com relação às suas atribuições. Neste sentido, a complexidade dos estudos efetuados possibilita uma melhor visão global das regras de conduta normativas.

sábado, agosto 26, 2006

revirando meu HD acabei encontrando uns textos bem antigos meu, dentre os quais está este, sei que faz muito tempo mais eu acho que algo existencialista e emotivo como ele naum deveria ficar de fora daqui...

em breve eu disponibilizo outras raridades...

Já não vejo o mundo com
Olhos de criança ao pôr-do-sol
Completamente despido da intensa insanidade
Que cada vez mais, abriga nossas almas

Pois deixei de crer em tudo aquilo que alimenta meus sonhos
Sem saber como os olhos do mundo desejam me ver
Sem saber o porquê das tuas lágrimas hoje verterem como sangue vivo

Quem me entenderá quando eu não puder mais me levantar?
Quem me dirá que ainda estou no caminho certo quando o mar de erros
Me cercar por todos os caminhos que eu ainda posso enxergar?

Não quero ser aceito...
Tudo o que eu desejo é fazer parte das sombras e ruínas
De tudo que ainda me resta do meu próprio mundo

Sair desse eterno labirinto
E quem sabe poder enfrentar aquilo
Que é mais forte que a soma de todos os meus

...Desejos...

Suas mãos me tocam...
Suas pernas te trazem até mim...
Sua boca profere mais e mais o meu nome...

Mas seus olhos já não mais são capazes de me enxergar
Morrer sempre fora uma solução,
Mas tudo o que aprendi foi a acordar dia após dia,
...E continuar pescando ilusões.

quinta-feira, agosto 24, 2006

Quão longe são os campos?

Não há graça alguma no que poderá ser. Lamentos e lembranças. No curto corredor entre o ócio e a solidão, a felicidade estava no que foi. Trata-se sempre disso, o evento e a memória, e as vezes no que podia ter sido. Agora, os fatos, solidão. Não existe o diálogo no monólogo. Dois mais dois, lógico, quatro. A memória ressoa nos vastos campos da mente. Os impulsos são de retorno. Inquietude somado ao silêncio, silêncio até que barulhento ecoando nos jardins da idéia. Três vezes três, é é...é muito! Tempestade de vácuo. Passado amado, bocejos de presente. Encontrei um novo amigo, sempre ganho dele no xadrez. Ops, as apresentações, mais novo amigo, "eu". As longas discussões não existem mais, "eu" pensa sempre igual a mim. Os diálogos resumem-se a opinião que é o ponto de partida, e um reluzente monossílabo "sim!". Os ombros pesam. Recolhem-se as lástimas e os desejos. Deus não pode me acudir, não com sua inexistência. Atamo-nos aos fatos, vazio. Vazio. Humm. Deve ser fome. Vou comer, uma nova consciência.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Repense sua vida...

A vida é uma doença sem cura, a cada dia ela se agrava mais e mais. Depois de algum tempo constatamos que já estamos em estado terminal o fim é o inevitável. Seria contraditório afirmar que a morte é a cura ? E suicídio coletivo seria uma espécie de vacinação ? Assistir televisão, fazer compras, comer comida cara. Esse tipo de morte lenta é realmente importante pra você ? A vida é realmente algo que passa e você não percebe como alo incolor, sem dor, e sem arranhões ? Já reparou como os dias passam rápido as semanas e os anos? Você olha pra traz e sente que aproveitou todos esses dias ? Não !?!?! Preguiça, sono, tédio, monotonia, rotina ? se enquadra em alguma porra dessas ? Então tua vida realmente é uma doença e a morte é tua cura!

sexta-feira, agosto 18, 2006

E a porta se abre,
Você está dentro do seu coração.
Imagine que sua dor é uma bola branca,
A qual irá curar você.Isso mesmo,
É a sua dor.
A dor é uma bola branca que irá curar você.

Eu não penso isto.

Esta é a sua vida
É a última gota para você
Melhor do que isso não pode ficar
Esta é a sua vida que acaba um minuto por vez
Isto não é um seminárioNem um retiro de fim de semana
De onde você está não pode imaginar como será o fundo
Somente depois de ma desgraça poderá despertar.
Somente depois de perder tudo poderá fazer o que quiser
Nada é estático, tudo é movimento
Esta é a sua vida, esta é a sua vida.
Melhor que isso não pode ficar
Esta é a sua vida
E ela acaba um minuto por vez

Você não é um ser bonito e admirável
Você é igual a decadência refletida em tudo
Todos fazemos parte da mesma podridão
Somos o único lixo que canta e dança no mundo

Você não é a sua conta bancária
Nem as roupas que usa
Você não é o conteúdo da sua carteira
Você não é o seu câncer nos testículos
Você não é o seu café com leite
Você não é o carro que dirige
Você não é sua gatinhas fudidas
Você precisa desistir
Você precisa saber que vai morrer um dia
Antes disto você é um inútil

Será que nunca serei completo?
Será que nunca ficarei contente?
Será que não vou me libertar destas suas regras rígidas?
Será que não vou me libertar desta sua arte inteligente?
Será que nunca vou me libertar do pecado e do perfeccionismo?

Eu digo: Você precisa desistir.
Eu digo: Evolua mesmo se você desmoronar por dentro

Está é a sua vida, está é a sua vida.
Melhor do que isso não pode ficar
Está é a sua vida
Ela acaba um minuto por vez

Esta é a sua vida.

Realmente... este é o trecho do que poderia ser o mais novo evangelho...

quinta-feira, agosto 17, 2006

SE O VOTO PUDESSE MUDAR ALGUMA COISA ELE SERIA ILEGAL.



Não Vote. Há uma lista inteira de coisas para não fazer, especialmente não desperdiçar tempo com estratégias quefalharam. Entretanto, votar merece uma menção especial, por causa da horrível ambivalência que ainda cerca este assunto.A ambivalência surge em larga escala a partir do óbvio fato de que o voto pode representar uma considerável diferença em nossas vidas se o governo ser controlado por fanáticos da extrema direita ou por liberais bonzinhos. Afinal de contas, se os governos ficam nas mãos das pessoas certas, e se a dinâmica interna do capitalismo permitir (isto é, se a taxa de lucro for suficientemente saudável) muitas coisas boas podem acontecer para o trabalhador comum. O que os governos não podem fazer é destruir o capitalismo, porque eles são uma parte integrante do capitalismo.Temos que enfrentar até mesmo argumentos como este. Qualquer tempo ou energia gastos no processo eleitoralsempre fará falta para o alcance de nossos verdadeiros objetivos. Não podemos nos dar ao luxo desse desperdício. Não temos tempo a perder. Ou paramos de lutar por aquilo que queremos ou começamos a lutar por aquilo que queremos. Nóstemos que reservar nossas energias para aquelas estratégias que destruirão o capitalismo e criarão um novo mundo. Alguns radicais argumentam que temos que fazer ambas as coisas, eleger socialistas ou pelo menos liberais progressistas para o executivo ou parlamento, ao mesmo tempo em que construímos instituições alternativas e atacamos o sistema de outros modos. Eles não estão sendo realísticos. Você pode gastar décadas de sua vida tentando construir um trabalho novo oupartido progressiva, mas o que você consegue mesmo se for bem sucedido? Não o que você realmente queria!Além do mais há toda uma gama de objeções ao voto, ele perpetua a ilusão de que vivendo em uma democracia oupelo menos em uma proto-democracia, que legitima o sistema, aquela disputa eleitoral é apenas uma opção para o muito rico, e assim por diante. Você pode recordar a sátira anarquista de que SE O VOTO PUDESSE MUDAR ALGUMA COISA ELE SERIA ILEGAL. Há um adesivo de pára-choque que onde se lê: “NÃO VOTE! ISSO APENAS OS INCENTIVA”. Se possível abstenha-se até mesmo de votar, mesmo que sofra alguns contratempos, é um ato de resistência. É uma rejeição consciente ao capitalismo, uma recusa em vender o cérebro, e como tal é um passo para construir um movimento de oposição.Embora voto universal represente uma grande conquista por parte do proletariado, do feminismo, da agitação pelosdireitos civis, foi ao longo do tempo transformado em um mecanismo de controle pela classe dominante, para ser usado contra nós. Deveríamos dispensar definitivamente esta prática e começar a praticar a ação direta para destruir o sistemaque nos está matando aos milhões.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Aquilo que vem ao mundo para nada perturbar não merece respeito nem paciência

Estamos vivendo uma época de profunda confusão, quem não está confuso está mal informado ou está sendo desonesto consigo mesmo. Ninguém sabe o que está acontecendo e ninguém sabe para onde estamos indo...
Já pensaram nisso???

sexta-feira, agosto 11, 2006

Um grande amigo meu, em uma conversa meio non sense durante uma festa disse-me que eu era mais do que um aborto social, disse que eu era uma novas espécie, que eu era um vírus social que estava se espalhando pela sociedade, como uma pedra no sapato da "pseudoaristocracia burguesa de merda" que estava lutando para dominar o que chamamos de sociedade... embora tenha achado o conceito interessante (esse cara é genial) disse-lhe que mais me parecia com uma ferida crônica, que possivelmente sararia se você parasse de mexer nela e de arrancar a sua casca mais você naum consegue...

O que vocês acham???

domingo, agosto 06, 2006

Tudo ou nada


A Máquina Planetária do Trabalho é onipresente; não pode ser desativada por políticos. Pronto. Será a Máquina nosso destino, até morrermos de câncer ou de doença cardíaca aos 65 ou 71? Terá sido esta a Nossa Vida? A gente imaginou ela assim? Será a resignação irônica nossa única saída, escondendo de nós mesmos nossa decepção pelos poucos anos de correria que nos deixaram? Talvez esteja tudo bem, e nós é que estamos dramatizando demais?
Não vamos nos iludir. Mesmo mobilizando todo o nosso espírito de sacrifício, toda a nossa coragem, não vamos conseguir nada. A Máquina é perfeitamente equipada contra kamikazes políticos, como a Facção Exército Vermelho, as Brigadas Vermelhas, os Montoneros e outros já demonstraram. Ela pode coexistir com a resistência armada e até transformar essa energia num motor para sua própria perfeição. Nossa atitude não é um problema moral, nem para nós e muito menos para a Máquina.
Quer a gente se mate, quer a gente se venda aos nossos negócios especiais, encontre uma abertura ou um refúgio, ganhe na loteria ou jogue coquetéis Molotov, junte-se aos Sparts ou ao Bhagwan, cutuque os ouvidos, tenha acessos de raiva ou ataques de delírio: estamos acabados. Esta realidade não nos oferece nada. Oportunismo não compensa. Carreiras são maus riscos; causam câncer, úlceras, psicoses, casamentos. Saltar fora significa auto-explorar-se nos guetos, mendigar nas esquinas de ruas imundas, esmagar piolhos entre as pedras do jardim da comunidade. A lucidez se tornou cansativa. A estupidez chateia.
Seria lógico perguntar a nós mesmos coisas assim: Como eu realmente gostaria de viver? Em que tipo de sociedade (ou não-sociedade) eu me sentiria mais confortável? O que realmente quero fazer comigo? Sem pensar no aspecto prático, quais são meus verdadeiros desejos e expectativas? E vamos tentar imaginar tudo isso não num futuro remoto (os reformistas sempre gostam de falar sobre a próxima geração), mas durante as nossas vidas, quando ainda estamos em boa forma, vamos dizer durante os próximos cinco anos...
Sonhos, visões ideais, utopias, aspirações, alternativas: não serão somente novas ilusões a nos seduzir novamente para participarmos do esquema do "progresso"? Não as conhecemos desde o neolítico, ou do século 17, da ficção científica e da fantasia literária de hoje? Vamos sucumbir de novo ao charme da História? Não é o Futuro o primeiro pensamento da Máquina? Será que a única saída é escolher entre o sonho da própria Máquina e a recusa de qualquer atividade?
Tem um tipo de desejo que, onde quer que surja, é censurado científica moral e politicamente. A realidade dominante tenta aniquilá-lo. Esse desejo é o sonho de uma segunda realidade.
Os reformistas nos dizem que é mesquinho e egoísta seguir apenas os próprios desejos. Precisamos lutar pelo futuro das nossas crianças. Precisamos renunciar ao prazer (aquele carro, férias, ar condicionado, TV) e trabalhar duro para que as crianças tenham uma vida melhor. Essa é uma lógica muito curiosa. Não foram exatamente a renúncia e o sacrifício da geração dos nossos pais, e seu trabalho duro nos anos 50 e 60, que trouxeram essa bagunça em que a gente está hoje? Nós já somos essas crianças, aquelas para quem houve tanto trabalho e sofrimento. Por nós, nossos pais fizeram (ou morreram em) duas guerras mundiais, incontáveis outras "menores", inumeráveis crises e falências grandes ou pequenas. Nossos pais construíram bombas nucleares para nós. Dificilmente foram egoístas: fizeram o que lhes disseram para fazer. Construíram com renúncia e sacrifício, e tudo isso apenas resultou em mais renúncia, mais sacrifício. Nossos pais, em seu tempo, superaram seu próprio egoísmo, e acham problemático respeitar o nosso.
Outros moralistas políticos poderiam objetar que dificilmente estaríamos autorizados a sonhar com utopias enquanto milhões morrem de fome, outros são torturados, desaparecem, são deportados e massacrados. É difícil fazer valer os direito humanos mais mínimos. Enquanto a criança mimada da sociedade de consumo faz listas de desejos outras nem sabem escrever, ou não tem nem tempo para pensar em desejos. Mais, olhe um pouquinho em volta: conheceu alguém morto por heroína, alguns irmãos ou irmãs em asilos, um suicídio ou dois na família? Qual das misérias é mais grave? Dá para medir? Mesmo se não tivesse miséria, seriam nossos desejos menos reais só porque os outros estão piores, ou porque poderíamos nos imaginar piores? É precisamente quando a gente age só para prevenir o pior, ou porque outros estão pior, que a gente torna essa miséria possível, permite que ela aconteça. Nesse sentido somos sempre forçados a reagir às iniciativas da Máquina. Há sempre um escândalo ultrajante, uma incrível impertinência, uma provocação que não pode ser deixada sem resposta. E assim nossos setenta anos vão-se embora – e os anos dos outros também. A Máquina não se importa de nos manter ocupados com isso. É uma boa maneira de evitar que fiquemos conscientes desses desejos imorais. Se começássemos a agir por conta própria, aí sim haveria problemas. Enquanto apenas (re)agirmos na base das diferenças morais, seremos tão impotentes quanto rodas dentadas, simplesmente moléculas explodindo na usina do desenvolvimento. E como já estamos fracos, a Máquina acaba conseguindo mais poder para nos explorar.
Moralismo é uma arma da Máquina, realismo é outra. A Máquina criou nossa realidade atual, nos treinou para ver segundo ela vê. Desde Descartes e Newton, ela programou nossos pensamentos, assim como a realidade. Estender deu padrão sim/não ao mundo inteiro e ao nosso espírito. Acreditamos nessa realidade, talvez por hábito. Mas enquanto aceitarmos a realidade da Máquina, seremos suas vítimas. A Máquina usa sua cultura digital para pulverizar nossos sonhos, pressentimento e idéias. Sonhos e utopias são esterilizados em novelas, filmes, música comercial. Mas essa realidade está em crise; a cada dia há mais rachas, e a alternativa sim/não é nada menos que a ameaça apocalíptica. A realidade definitiva da Máquina é sua auto destruição.
Nossa realidade, a Segunda realidade, a dos velhos e novos sonhos, não pode ser presa na trama do sim/não. Recusa ao mesmo tempo o apocalipse e o status quo. Apocalipse ou evangelho, fim do mundo ou utopia, tudo ou nada: este é o único tipo de opção que a realidade atual oferece. Podemos escolher facilmente entre esta realidade e a Segunda realidade. Meias atitudes, tipo esperança, confiança ou paciência, são ridículas e enganadoras, pura auto-sedução. Não há esperança. Temos que escolher já.
O Nada se tornou uma realística possibilidade, mais absoluta do que os velhos niilistas ousaram sonhar. Nesse aspecto, os méritos da Máquina precisam ser reconhecidos. Finalmente, chegamos ao Nada! Não temos que sobreviver! O Nada se tornou uma alternativa realística com sua própria filosofia (Cioran, Schopenhauer, Budismo, Glucksmann), sua moda (preta, desconfortável), música, estilo de casa, pintura, etc. Apocalípticos, niilistas, pessimistas e misantropos têm todos bons argumentos para suas atitudes. Afinal, se você transforma a vida, a natureza ou a humanidade em valores, só existem riscos totalitários, biocracia ou ecofascismo. Você sacrifica a liberdade para sobreviver; novas ideologias de renúncia emergem e contaminam todos os sonhos e desejos. Os pessimistas são os únicos realmente libre, felizes e generosos. O mundo nunca será suportável de novo sem a possibilidade de sua autodestruição, assim como a vida do indivíduo é um peso sem a possibilidade do suicídio. O Nada está aí de prova.
Por outro lado, Tudo também é muito sedutor. Claro que é muito menos provável do que o Nada, mal definido, parcamente pensado. É ridículo, megalomaníaco, pretensioso.
NADA
Talvez esteja aí só pra tornar o Nada mais atraente.

sábado, agosto 05, 2006


Acho que estou meio anarquico ultimamente... a série de fragmentos do que chamo de eu encontra-se num inevitável conflito em busca de mim mesmo... enquanto tento me resolver vou postar alguns poemas, alguns de minha autoria e outros naum, que naum só fazem parte da minha história lembrará a todos que fazem parte dela...

P.M.S.L.

Impossivel é não odiar estas manhãs sem teto e as valsas que banalizam a morte
Tudo que fácil se dá quer negar-nos.
Teme o lúdibrio dos corolas.
Na orquídea busca a orquídea que não é apenas o fátuo cintilar das pétalas:
busca a móvel orquídea: ela caminha em si,
é contínuo negar-se no seu fogo, seu arder é deslizar.
Vê o céu.
Mais que azul, ele é o nosso sucessivo morer.
Ácido céu.
Tudo se retrai, e a teu amor oferta um disfarce de si.
Tudo odeia se dar.
Conheces a água? ou apenas o som do que ela finge?
Não te aconselho o amor.
O amor é fácil e triste.
Não se ama no amor, senão o seu próprio findar.
Eis o que somos: o nosso tédio de ser.
despreza o mar acessível que nas praias se entrega, e o das galeras de susto;
despreza o mar que amas, e só assim terás o exato inviolável mar autêntico!
O girassol vê com assombro que só a sua precariedade floresce.
Mas esse assonbro é que é ele, em verdade.
Saber-se fonte única de si alucina.
Sublime, pois, seria suicidar-no:
trairmos a nossa morte para num sol que jamais somos nos consumirmos.

Poema Concreto

O que tu tens e queres saber (porque te dói)
não tem nome.
Só tem (mas vazio) o lugar
que abriu em tua vida a sua própria falta.
A dor que te dói pelo avesso,
perdida nos teus escuros,
é como alguém que comenão o pão,
mas a fome.
Sofres de não saber
o que tens e falta
num lugar que nem sabes,
mas que é tua vida,
quem sabe é teu amor.
O que tu tens, não tens.

O Albatroz
Tradução de Ivan Junqueira
Às vezes, por prazer, os homens da equipagem
Pegam um albatroz, imensa ave dos mares,
Que acompanha, indolente parceiro de viagem,
O navio a singrar por glaucos patamares.

Tão logo o estendem sobre as tábuas do convés,
O monarca do azul, canhestro e envergonhado,
Deixa pender, qual par de remos junto aos pés,
As asas em que fulge um branco imaculado.

Antes tão belo, como é feio na desgraça
Esse viajante agora flácido e acanhado!
Um, com o cachimbo, lhe enche o bico de fumaça,
Outro, a coxear, imita o enfermo outrora alado!

O Poeta se compara ao próncipe da altura
Que enfrenta os vendavais e ri da seta no ar;
Exilado no chão, em meio à turba obscura,
As asas de gigante impedem-no de andar.

“Uma noite triste”
Cuspo sangue e versos de dor sofridos,
Arrancados da minha negra alma e moídos.
Junto ao sabor amargo de meus desejos abortados
Minha impotência é esse fardo que trago tatuado.
Acho que nunca fui feliz ao lado de alguém.

Vou morrer sozinho...
Este é meu caminho.
E quem um dia, disso, irá se lembrar,
Quando a luz da última estrela se apagar?

quarta-feira, agosto 02, 2006

Caro Amigo

Cá as coisas andam com as pernas que não tem. E se o coração insiste em bater é porque a vida tem destas coisas, ela parece querer sempre valer a pena. Por isto sempre que eu lembrar seu nome vou erguer ao alto uma canção e a minha casa, bem como a sua, vai boiar na fronteira do não.Sabe cara, andei lendo livros. E o que eles me dizem não se diz em palavras, de modo que no não dito, no não escrito, reside sempre o feito. Nossos heróis, nós sabemos, estão a roubar supermercados e afirmar a humanidade acima das mercadorias, estão a burlar os preços, a pressupor os fatos nas frestas do sistema. Nossos heróis, ao contrário do que disse certa vez Cazuza, não morreram de overdose: NOSSOS HERÓIS SÃO A OVERDOSE.
Nós somos o excesso, o que sobra e não se enquadra, somos os que insistem em pensar as estruturas para fraturá-las no vértice, no apêndice do caos urbano. Vale dizer meu amigo, que nós somos por demais humanos, e como tais, por demais amamos. Esta nossa mania de amar a vida é também nossa mania de amar os vivos. Pois então, aos vivos e às vivas, todo amor que couber no tempo. Sem o por acaso das lágrimas e lamentos, nós não vivemos apenas para fabricar excrementos, isto é fato e por ele não me entrego, ao contrário, por ele é preciso negar com candura e afirmar com bravura, por ele alimentar a mente como quem alimenta criaturas, de novos nomes, novas palavras, novas vidas.Sabe, a saudade é um negócio estranho. É quando, diante dos fatos, nos perguntamos: " o que será que meu amigo diria?" Você diria que eu quero tudo. Eu diria que não me iludo, todo silêncio um dia se queda surdo, por isso guardo minha voz e meu amor, para um dia torná-los espasmo, susto, para reverberar nas paredes e acordar o aquário onde crio minhas aves marinhas. Eu tenho tanto para dar, tanto para criar, tanto para conversar. Por isto meu amigo, caso eu no acaso da vida (não o acaso em si, mas aquela coincidência desejada, saca?) tenha por mim a morte, com sorte ou não, te peço: beba por mim o que eu beberia por você, cante por mim o que eu cantaria com você: faça por mim o que achar que deve fazer, afinal, somos livres para pensar, livres para discordar, para largar tudo e reconstruir, para acreditar no porvir.
P.S. : Barbalha é, no fundo sem fundo, a cidade do desencanto. O povo daqui anda despovoado. Sinto-me só. Ela permanece, há quase três anos ela bravamente permanece e torce por mim.
p.s. último: cada vez mais fragmentado em nomes. eu.

terça-feira, agosto 01, 2006

Todo Mundo é uma ILHA



Nenhum homem, proclamou, é uma ilha, e ele estava errado. Se nós não fôssemos ilhas, estaríamos perdidos, afogados nas tragédias dos outros. Nós nos isolamos (uma palavra que significa, literalmente, lembre-se, ser transformado em ilha) da tragédia dos outros por nossa natureza de ilha, e pelo desenho e pela forma repetitiva das histórias. O desenho não muda: havia um ser humano que nasceu, cresceu e então, por causa de uma coisa ou de outra, morreu. Pronto. É possível preencher as lacunas com base em sua própria experiência. Tão sem originalidade como qualquer outro conto, tão único como qualquer outra vida. Vidas são flocos de neve, formando figuras que já vimos antes, tão parecidos uns com os outros quanto ervilhas em uma vagem (e você já olhou para as ervilhas em uma vagem? Eu quero dizer, olhou mesmo para elas? Depois de um minuto de exame atento, não há chance de você confundir uma com a outra), mas, ainda assim, única.
Sem indivíduos, enxergamos apenas números: mil mortos, 100 mil mortos, "o número de vítimas pode chegar a um milhão". Com histórias individuais, as estatísticas se transformam em pessoas - mas até isso é mentira, porque as pessoas continuam a sofrer em números que, por si só, são entorpecentes e sem sentido. Olhe, veja a barriga inchada do menino e as moscas que andam no canto dos olhos dele, seus membros esqueléticos: vai ajudar se você souber seu nome, idade, sonhos e medos? Se enxergá-lo por dentro? E, se ajudar, será que não estaremos prestando um desserviço à irmã dele, que está ali ao lado, estirada na poeira abrasadora, uma caricatura distorcida e inchada de uma criança humana? E daí, se lamentarmos por essas duas crianças, será que elas agora passarão a ser mais importantes para nós do que milhares de outras crianças atingidas pela mesma fome, milhares de outras vidas jovens e contorcidas que logo se transformarão em alimento para os mosquitos?
Nós desenhamos nossos limites ao redor desses momentos de dor... continuamos em nossas ilhas, e eles não podem nos ferir. Ficam escondidos sob uma cobertura nacarada, suave e segura para que escorreguem, como as ervilhas, de nossas almas sem que sintamos dor verdadeira.
A ficção nos permite deslizar para dentro dessas outras cabeças, para esses outros lugares, e olhar através de outros olhos. E então, no conto, paramos antes de morrer, ou morremos de forma indireta ou sem prejuízo e, no mundo além do conto, viramos a página ou fechamos o livro, e terminamos de viver nossa vida.
Uma vida que, como qualquer outra, é diferente de todas.