quinta-feira, setembro 28, 2006

“Tudo que é grande está em meio à tempestade.”

“...Nascer não é nascer. Também nascem aqueles homens aos quais Nietzsche chamou ‘os últimos’. Aqueles que não levam em seu ser o caos, aqueles que não apenas são incapazes de criar uma estrela, mas que também se entregam à vida imbecil, à banalidade, à subordinação. Esses seres opacos que buscam a fortuna, que fogem do azar e do risco. Do risco, sobretudo, de viver entre asperezas, duramente.Num mundo sem deuses, apenas os homens que enfrentam seu caos, que jamais se saciam, nem descasam, os que criam, imaginam e decidem em meio e a partir do caos, só eles são ainda capazes de engendrar uma estrela. Serás parte dessa tropa? Tu te lançarás ao assalto do grandioso?Existe apenas um modo: não temas o teu caos. Não fujas dele. Deixa-o crescer e em ti, inundar-te, pôr-te louco. Mas não o sufoques com a felicidade. Os homens vivem buscando a felicidade, e a felicidade é uma invenção burguesa, é uma morte pequena, segura, que não dói nem machuca. É uma morte que acontece todos os dias. É a morte ínfima do cotidiano, que te aparta da dor, ou do horror, mas que te afunda no niilismo da cretinice. Quando o Dasein autêntico morre, ele não morre, deixa de ser. O Dasein da fortuna, da levianidade inautêntica, o que viveu fugindo a seu próprio caos, esse quando morre não deixa de ser, porque nunca foi.O caos não é sofrimento pelo sofrimento. Não é a queixa, o lamento débil. O caos, teu caos, é a estrela de tua grandeza e a profundidade de tua fortuna, que é secreta, que é íntima, que é forte porque se provou em meio a todas tempestades, cara a cara com a morte. O caos é a fonte criativa de teu espírito. Ali, tão-somente ali, a felicidade, que incorporou a sabedoria da dor, te fará grande, e poderás até oferecê-la aos outros. Nunca aos imbecis. Os homens que conquistaram sua estrela só se reconhecem naqueles que conquistaram a deles ou estão por fazê-lo, porque buscam, porque não matam a sede com artifícios, com novidades. Desses homens, por meio deles, retornariam a este mundo os deuses que o abandonaram.”In: “A Sombra de Heidegger” de José Pablo Feinmann.
Incrível... um texto destes e não foi escrito por mim...

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