terça-feira, outubro 03, 2006

Reflexão pós eleição

É com muita angústia que eu vejo a maior parte dos "anarquistas" brasileiros se agarrarem com tanto afinco a ilusão do voto nulo, imagninado ser um ato rebelde de protesto e até mesmo subversivo, gastando tempo e energia defendendo o voto nulo (ou apenas reproduzindo e publicando os mesmos textos e argumentos), anarquistas contraditoriamente assumindo uma campanha eleitoral.
Em pensar que historicamente os anarquistas repudiam a utilização de qualquer mecanismo do Estado, a participação em eleições por exemplo (imagine: tempo, energia e recursos incentivando pessoas a votar). Anarquia é imcompatível com reformismo. E tristemente é o reformismo que os "anarquistas" brasileiros adotam ao defender o voto nulo. Voto nulo ainda é voto, e o ato de votar é legitimar o controle do Estado. A campanha "libertaria" pelo voto nulo tem se tornado o refúgio, a oportunidade de gastar energia revolucionária contida ao longo do periodo sem eleições, um periodo em que aguentam e abaixam a cabeça para as forças domesticadoras (entre elas o trabalho, uso do dinheiro, acesso a água, comida e abrigo).
Desta maneira, os anarquistas brasileiros, de fato nunca vão representar um perigo, e fisicamente nunca vão exercer uma ameaça ao poder (muito menos um passo a frente na auto-gestão). Desta maneira, os "anarquistas-do-voto-nulo" ao defenderem sua estratégia reformista ou aliviadora de consciência, não deveriam usar as palavras "anarquia", "subversão", "revolta" e "revoluçao", sob o risco dessas palavras perderem seu significado - o que ja está ocorrendo.
Atualmente as iniciativas anarquistas no Brasil, em sua maioria, tem sido iniciativas tímidas, limitadas a reprodução de textos, tentivas inúteis (com algumas boas intenções) de organização, entre outros apegos esquerdistas, uma nostalgia estéril ao passado anarquista e de anarquistas refletida em algumas revistas e editoras que ainda se mantém "clássicas" e rígidas em suas publicações.
Não bastasse este cenário morno, pouco tempo atrás vieram as vendas das idéias de Hakim Bey, o que deu um ar liberal, promíscuo e comformista aos rebeldes carentes de direções, alienando e direcionando as instintivas energias revolucionárias e desobedientes a supostas intervenções cotidianas, uma espécie de "subversão consumível possível".
Se houve algumas boas intenções nessas idéias, o que eu duvido, acabou virando uma armadilha, contribuindo ainda mais para a mentalidade perdida dos "subversivos" perdidos - e amedrontados.
Enfim, geralmente o que se encontra hoje no meio anarquista brasileiro é a reprodução fiel de um papel específico reservado pela sociedade de mercado. Resultado: nada de revoltas, nada de questionamento, nenhuma desobediência, autonomia zero, baderna nas prateleiras.
Infelizmente e perigosamente isso é o que encontramos no meio anarquista brasileiro, ou seja, auto-gestão, controle de nosssas vidas, independência e capacidade de prover e defender tudo isso para nós e para os nossos queridos, estão longe de acontecer, estão longe de serem construidos (o que é mais importante).
A luta anarquista hoje no Brasil está atolada no lodo reformista, obediente, esquerdista e liberal. Está mais que na hora de limpar este lodo com a água cristalina da desobediência, expontaneidade e liberdade irrestrita.
PARA VOLTARMOS A SERMOS PERIGOSOS:
By Ari Almeida
Perder a ilusão de um sociedade de massas libertária. Defender uma sociedade complexa de massas e libertária é o mesmo que defender a hidratação do óleo. Apegados a essa ilusão de uma sociedade global interdependente e libertária, um bom punhado de tempo e energia é gasto especulando a "manutenção liber tária" dessa sociedade, essa energia direcionada ao impossível resulta em uma realidade local nada libertária. - A desnecessidade de organização Esse sonho esquerdista tem sequestrado por anos tempo, energia e recursos, alienando os indivíduos que se agarram a essa tendência paternalista da construção de sua própria autonomia. Pois assim, gastam energia inutilmente enfrentando as dificuldades (que se mostram eternas) de organizar uma corrente, uma organização, federação, etc, esperando que a partir disso com o rígido controle interno e disciplina editarão um jornal e discutirão a conjuntura, ao invés de gastarem energia de forma eficiente enfretando os obstáculos da contrução de sua própria autonomia e daqueles que realmente dividem seu dia-a-dia, fertilizando a resistência com sua própria experiência. Grupos de afinidade ou agrupamentos espontâneos sempre responderam melhor aos objetivos e problemas que se apresentavam, pelo simples motivo de não estarem "petrificados". Deixemos a esquerda se afundar sozinha Não é preciso dizer muito sobre a falência da esquerda, sua tara por um capitalismo humanizado, se revelando então a faceta humanista da civilização, "domesticação para todos". Abandonemos então as eternas e monótonas convocações para a construção de um partido revolucionário, a adoração marxista ao industrialismo, fórmulas emancipatórias, entre outras mesmices. Questões como domesticação, divisão de trabalho, tecnologia, produção, individualidade e progresso nunca serão questionadas pela esquerda, e sim administradas. A civilização está desmoronando e levará junto todas as suas aberrações, dentre elas, a esquerda.

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