sábado, agosto 05, 2006


Acho que estou meio anarquico ultimamente... a série de fragmentos do que chamo de eu encontra-se num inevitável conflito em busca de mim mesmo... enquanto tento me resolver vou postar alguns poemas, alguns de minha autoria e outros naum, que naum só fazem parte da minha história lembrará a todos que fazem parte dela...

P.M.S.L.

Impossivel é não odiar estas manhãs sem teto e as valsas que banalizam a morte
Tudo que fácil se dá quer negar-nos.
Teme o lúdibrio dos corolas.
Na orquídea busca a orquídea que não é apenas o fátuo cintilar das pétalas:
busca a móvel orquídea: ela caminha em si,
é contínuo negar-se no seu fogo, seu arder é deslizar.
Vê o céu.
Mais que azul, ele é o nosso sucessivo morer.
Ácido céu.
Tudo se retrai, e a teu amor oferta um disfarce de si.
Tudo odeia se dar.
Conheces a água? ou apenas o som do que ela finge?
Não te aconselho o amor.
O amor é fácil e triste.
Não se ama no amor, senão o seu próprio findar.
Eis o que somos: o nosso tédio de ser.
despreza o mar acessível que nas praias se entrega, e o das galeras de susto;
despreza o mar que amas, e só assim terás o exato inviolável mar autêntico!
O girassol vê com assombro que só a sua precariedade floresce.
Mas esse assonbro é que é ele, em verdade.
Saber-se fonte única de si alucina.
Sublime, pois, seria suicidar-no:
trairmos a nossa morte para num sol que jamais somos nos consumirmos.

Poema Concreto

O que tu tens e queres saber (porque te dói)
não tem nome.
Só tem (mas vazio) o lugar
que abriu em tua vida a sua própria falta.
A dor que te dói pelo avesso,
perdida nos teus escuros,
é como alguém que comenão o pão,
mas a fome.
Sofres de não saber
o que tens e falta
num lugar que nem sabes,
mas que é tua vida,
quem sabe é teu amor.
O que tu tens, não tens.

O Albatroz
Tradução de Ivan Junqueira
Às vezes, por prazer, os homens da equipagem
Pegam um albatroz, imensa ave dos mares,
Que acompanha, indolente parceiro de viagem,
O navio a singrar por glaucos patamares.

Tão logo o estendem sobre as tábuas do convés,
O monarca do azul, canhestro e envergonhado,
Deixa pender, qual par de remos junto aos pés,
As asas em que fulge um branco imaculado.

Antes tão belo, como é feio na desgraça
Esse viajante agora flácido e acanhado!
Um, com o cachimbo, lhe enche o bico de fumaça,
Outro, a coxear, imita o enfermo outrora alado!

O Poeta se compara ao próncipe da altura
Que enfrenta os vendavais e ri da seta no ar;
Exilado no chão, em meio à turba obscura,
As asas de gigante impedem-no de andar.

“Uma noite triste”
Cuspo sangue e versos de dor sofridos,
Arrancados da minha negra alma e moídos.
Junto ao sabor amargo de meus desejos abortados
Minha impotência é esse fardo que trago tatuado.
Acho que nunca fui feliz ao lado de alguém.

Vou morrer sozinho...
Este é meu caminho.
E quem um dia, disso, irá se lembrar,
Quando a luz da última estrela se apagar?

Um comentário:

Dreca disse...

devo ter visto baudelaire em um poema de ave palmípede aculá entre um concretismo e um triste noitar...